C E N S U R A D O |
Depois do silêncio, da deturpação, agora chegou a hora da censura explícita. O Diario de Pernambuco censurou hoje um artigo do economista Clóvis Cavalcanti. Foi a primeira vez, desde 1999, quando ele iniciou sua colaboração, que o DP vetou um texto dele.
ADMIRÁVEL MOVIMENTO DE PROTESTO
Clóvis
Cavalcanti
Economista
ecológico e pesquisador social; clovis.cavalcanti@yahoo.com.br
Uma reação da sociedade civil contra o
chamado Projeto Novo Recife transformou-se aos poucos em belíssimo movimento
social: o #OcupeEstelita. Infelizmente, na sua evolução, essa iniciativa não
contou com cobertura forte dos meios de comunicação recifenses, valendo-se
apenas das redes sociais que, como se sabe, não alcançam certas camadas da
população. Mesmo assim, o OcupeEstelita – inspirado nas sugestivas mobilizações
aparecidas em 2011, em Nova York, com o Occupy
Wall Street – ganhou a adesão de número expressivo de pernambucanos.
O que quer esse movimento? Discutir uma visão
de cidade que signifique bem-estar genuíno para todos, que não sucumba à
ganância insaciável da especulação imobiliária, que não deforme o que resta da
linda herança urbana do Recife. O oposto do propósito do Projeto em
questionamento, aprovado, sim, formalmente, nos níveis de decisão (fechados,
opacos) do governo municipal, mas não submetidos a debates (abertos,
transparentes) com todas as partes interessadas, com todos os atores sociais (stakeholders) relevantes. É só comparar
as imagens disponíveis do Recife nas décadas de 1940 e 1950 – quando, como
criança e adolescente, eu me familiarizei com elas – com as do Projeto Novo
Recife e seus espigões descomunais. Que seguem o exemplo das lamentáveis Torres
Gêmeas do Cais de Santa Rita. E do mote de devastação dado pelo esdrúxulo
prefeito Augusto Lucena, imposto pelos militares em 1964. Isso não pode vingar,
diz o Estelita, apoiado já agora por enormes segmentos da sociedade.
Assim, soa como ofensa gratuita, como
classificação aberrante, o que escreveu jornal do Recife a propósito das
pessoas idealistas que integram o movimento: “protestadores profissionais”.
Todos os pernambucanos deveriam era agradecer a Deus por nos dar uma forma de
protesto civilizada, educada, dentro da lei como a do #OcupeEstelita. Um
exemplo de Primeiro Mundo, de como deve ser a reação da sociedade diante de
coisas absurdas que incomodam. Foi o Novo Recife objeto de elucubrações
técnicas perfeitas? Passou por todas as instâncias deliberativas previstas?
Fez-se isso de forma nítida, criteriosa e irreprimível? Quem garante? O fato é
que a sociedade despertou. Com uma vanguarda decente, digna, admirável.
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